O Banco Central (BC) realizou nesta sexta-feira uma mesa-redonda sobre os 30 anos do Plano Real com a participação dos ex-presidentes do BC Gustavo Franco, Gustavo Loyola, Pedro Malan e Pérsio Arida. O atual presidente, Roberto Campos Neto, fez a mediação da mesa.
O primeiro convidado a falar foi Malan, ex-presidente do BC entre setembro de 1993 e dezembro de 1994 e ministro da Fazenda entre 1995 e 2002. Malan ressaltou que a consolidação da vitória inicial do Plano Real sobre a hiperinflação é uma tarefa que não se esgota. Segundo o ex-presidente do BC, a agenda do país pós-derrota da hiperinflação “se confunde com a própria agenda do desenvolvimento econômico, social e político”.
O ex-presidente do BC e ex-ministro da Fazenda apontou também acreditar que a maioria do eleitorado “penalizará nas urnas um governante que tenham uma postura excessivamente leniente e complacente com relação ao comportamento da inflação”.
Malan também disse que é possível compatibilizar a responsabilidade social e fiscal.
Arida, presidente do BC entre 1993 e 1995, contou que no início da implementação do Plano Real, “em três ou quatro meses já estava tudo denominado em URV”, Unidade Real de Valor, e que houve quase um “pacto social implícito” de apoio à nova moeda.
Para os dias atuais, Arida destacou que o tripé macroeconômico é “manco” atualmente, “porque a perna fiscal sofreu longa e contínua deterioração e as perspectivas não são boas”.
Gustavo Franco, presidente do BC entre 1997 e 1999, contou que, durante a implementação da URV, o Banco Central montou “call centers” para tirar dúvidas das pessoas, mobilizando servidores. Franco contou que o efeito dentro do BC foi “espetacular” para energizar as pessoas.
Loyola, que ocupou a cadeira de presidente do BC entre 1992 e 1993 e depois entre 1995 e 1997, ressaltou o esforço da instituição nos anos 90 para trabalhar na supervisão e regulação bancária. Loyola ressaltou que a supervisão bancária no Brasil talvez seja “um dos exemplos mais claros de continuidade de política pública independentemente da cor do governo”.
O ex-presidente do BC destacou que a instituição tem se fortalecido ao longo do tempo, com a autonomia, e, “embora a estabilidade de preços hoje esteja imbricada forte no coração dos brasileiros”, a instituição ainda é sujeita “a críticas sem nenhuma base, críticas políticas, populistas”.
Loyola também lamentou que a questão fiscal não tenha sido resolvida ainda. Em outro ponto, defendeu a autonomia completa do BC para ter os recursos humanos e os investimentos necessários. Campos Neto, que mediava a mesa, agradeceu e afirmou que o BC sofre uma asfixia financeira e administrativa “que nos atrapalha muito, vejo isso hoje como um grande problema”.