Trump classifica Brasil como “ameaça extraordinária” e impõe tarifa de 50% sobre produtos brasileiros

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quarta-feira (30) uma ordem executiva que eleva para 50% a taxação sobre produtos brasileiros. No documento, a Casa Branca classifica o Brasil como “uma ameaça incomum e extraordinária” à segurança nacional americana, enquadramento até então reservado a países considerados hostis a Washington, como Cuba, Venezuela e Irã.

A medida, amparada na Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA) de 1977, foi apresentada como resposta a “políticas, práticas e ações recentes do governo brasileiro que, segundo os EUA, comprometem a segurança, a política externa e a economia do país”.

Críticas a processos contra Bolsonaro

O comunicado também acusa o governo brasileiro de violar direitos humanos ao supostamente perseguir o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores. A Casa Branca cita “perseguição, intimidação, assédio e censura” contra opositores políticos. Bolsonaro, que responde a processos por tentar anular o resultado da eleição de 2022, nega irregularidades e afirma ser vítima de perseguição.

Analistas políticos observam que o discurso adotado por Trump reforça a narrativa da extrema-direita, que tenta associar investigações sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 a uma suposta crise democrática no Brasil.

Redes sociais e disputas judiciais

Outro ponto de atrito é a atuação de plataformas digitais no Brasil. O governo americano acusa autoridades brasileiras de “coagir empresas americanas” a remover conteúdos e fornecer dados de usuários. Nos últimos anos, decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) resultaram na suspensão de redes sociais como Rumble e X, além da imposição de restrições a perfis investigados por crimes contra o Estado Democrático de Direito.

Especialistas lembram que, no Brasil, a liberdade de expressão não é absoluta. “A democracia brasileira estabelece limites claros, como a proibição de incitar golpes ou defender ideologias nazistas”, explica a professora de direito constitucional Flávia Santiago, da Universidade Estadual de Pernambuco (UPE).

Impactos econômicos e geopolíticos

Com a tarifa de 50%, exportadores brasileiros temem perdas bilionárias, sobretudo nos setores de aço, alumínio e agronegócio. A decisão deve gerar novos embates diplomáticos entre Brasília e Washington, em um momento em que ambos os países já enfrentam divergências sobre comércio, tecnologia e política externa.

Trump, por sua vez, sustenta que a medida protege empregos e empresas americanas. “Estamos defendendo a segurança nacional e a economia dos Estados Unidos contra ameaças estrangeiras”, afirmou.

Contexto político e internacional

Para o pesquisador Pedro Kelson, do Washington Brazil Office (WBO), o endurecimento da Casa Branca tem também caráter político. “Ao adotar a narrativa de perseguição contra Bolsonaro, Trump acena à sua própria base eleitoral, que compartilha pautas semelhantes com a extrema-direita brasileira”, analisa.

Apesar das críticas, o governo brasileiro ainda não se pronunciou oficialmente sobre a nova taxação. Nos bastidores, diplomatas avaliam que a medida poderá ser contestada na Organização Mundial do Comércio (OMC), embora a classificação de “ameaça à segurança nacional” ofereça amplo respaldo legal para a decisão americana.

A crise abre um novo capítulo nas relações bilaterais, colocando em xeque acordos comerciais e ampliando a tensão política em meio a disputas ideológicas que transcendem fronteiras.