Tarifas americanas elevam incertezas para o Brasil, e impactos podem chegar a Anápolis 

Milkylenne Cardoso
Por Milkylenne Cardoso

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na última quarta-feira (2) um novo pacote de tarifas comerciais denominado “Dia da Libertação”, que impõe sobretaxas a produtos importados de países considerados pelo governo americano como mantenedores de barreiras desproporcionais ao comércio. O Brasil foi incluído na lista e será sujeito a uma tarifa de 10% sobre seus produtos exportados aos EUA, a menor entre os países afetados. No entanto, a medida gera incertezas quanto aos impactos na economia brasileira e, consequentemente, na economia de Anápolis.

Os principais produtos brasileiros exportados para os EUA incluem óleos brutos de petróleo (R$ 5,8 bilhões em exportações em 2024), produtos semimanufaturados de ferro ou aço (que já enfrentam tarifas de 25% desde março de 2025) e aeronaves e partes. Com a nova tarifa de 10%, esses produtos terão sua competitividade no mercado americano reduzida, o que pode impactar diretamente o volume de exportações brasileiras.

Em Anápolis, setores como a exportação de tortas e resíduos da extração de óleo de soja, ouro e preparações farmacêuticas podem ser afetados indiretamente. Embora os EUA não sejam os principais destinos dessas exportações, uma retração no comércio global pode levar a uma diminuição da demanda externa, afetando a economia local. Empresas anapolinas que exportam para os EUA poderão enfrentar uma redução nos pedidos e receitas, o que pode resultar em ajustes na produção e no quadro de funcionários, a menos que consigam ampliar sua presença em outros mercados.

A economista Adriana Pereira avalia que, apesar dos desafios, a taxa imposta ao Brasil é a menor entre os países afetados, o que reduz o impacto relativo para o setor exportador brasileiro. “Os Estados Unidos taxaram o Brasil com 10%, enquanto alguns países receberam sobretaxas de até 49%. No curto prazo, as exportações brasileiras para os EUA podem sofrer uma retração, mas o impacto tende a ser menor em comparação com outras nações que enfrentarão tarifas mais elevadas”, explica Pereira. Segundo ela, a competitividade internacional para o mercado americano não sofrerá alterações drásticas, pois muitos países enfrentarão dificuldades semelhantes, o que deve aumentar os custos para consumidores e empresas nos EUA.

Para Adriana Pereira, o impacto em Anápolis dependerá da capacidade de adaptação das empresas exportadoras. “Setores como o farmacêutico e o de insumos agrícolas podem sentir os efeitos de forma indireta, caso haja uma redução na demanda global. Contudo, a diversificação dos mercados é uma alternativa para minimizar os impactos”, afirma a economista. Ela também destaca que a atual política cambial pode ajudar a manter a competitividade das exportações brasileiras. “Com o real valorizado recentemente, os custos de exportação podem ser atenuados, reduzindo parte das perdas causadas pela tarifa americana.”

A imposição dessas tarifas pode gerar reflexos também no emprego e na renda em Anápolis. Empresas exportadoras podem precisar reavaliar seus investimentos e capacidade produtiva, o que pode resultar em ajustes no nível de emprego no curto prazo. No entanto, Adriana Pereira acredita que a situação pode estimular a diversificação de mercados e a busca por novos parceiros comerciais. “A médio e longo prazo, isso pode fortalecer a economia brasileira, reduzindo sua dependência do mercado americano e incentivando novas estratégias de exportação para outras regiões”, analisa.

Outra preocupação é a possível resposta do Brasil através da chamada “Lei da Reciprocidade”, já aprovada no Senado e atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados. A medida prevê a aplicação de tarifas equivalentes sobre produtos importados dos EUA, o que pode encarecer itens de origem americana no Brasil. Caso a lei seja sancionada, os setores que dependem desses produtos importados poderão sofrer com custos mais elevados, afetando empresas e consumidores brasileiros.

Por outro lado, a medida americana pode representar uma oportunidade para Anápolis. A necessidade de buscar novos mercados pode fortalecer a resiliência econômica da cidade e do Brasil como um todo. Ademais, a valorização do real após o anúncio das tarifas pode reduzir a pressão inflacionária sobre alguns produtos importados, beneficiando setores estratégicos da economia local.

Diante desse cenário, especialistas recomendam que as empresas brasileiras adotem estratégias para mitigar os impactos, como a diversificação de mercados e a ampliação das negociações comerciais com outras economias, como China, União Europeia e Japão. Apesar dos desafios imediatos, a decisão dos EUA pode impulsionar uma reestruturação das exportações brasileiras, abrindo novas oportunidades para o comércio exterior e reduzindo a dependência do mercado norte-americano.