Vice-líder do governo na Câmara critica propostas do governo e deixa o cargo | Política

Segundo Linhalis, os articuladores políticos do governo pediram que ele alterasse o projeto de lei que permite a retirada de invasores de propriedades sem a necessidade de ordem judicial, mas ele não concordou com as mudanças sugeridas.

O texto está em discussão na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, tendo ele como relator. “Queriam que eu mexesse no relatório a ponto de desfigurar o projeto e não concordei. Disseram que essa posição ficaria ruim, como vice-líder do governo, e disse que não tem problema, que renunciaria, mas não mexeria no meu relatório”, disse.

Linhalis foi indicado como um dos vice-líderes do governo pelo Podemos. São 20 deputados nessa função, responsável por coordenar as orientações do Palácio do Planalto dentro de seus partidos e desempenhar atividades por solicitação do Executivo, como relatoria de projetos e participação em comissões para defender os temas de interesse do governo.

A saída, afirmou ele ao Valor, ocorreu por causa desse projeto específico. “Defendo a segurança jurídica no campo. Não defender isso é um contrassenso quando uma das maiores receitas do país vem do agro”, disse. “Não há nenhuma animosidade [com o governo]. O que há são posições divergentes em alguns temas”, justificou.

Apesar da fala, quem olha o perfil de Linhalis nas redes sociais imagina que se trata de um parlamentar de oposição. Há fotos com críticas à recriação do seguro por Danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre (DPVAT), proposto pelo governo ano passado e aprovado pela Câmara há duas semanas.

Ele também gravou vídeos para defender o projeto de lei que restringiu as saídas temporárias de presos no regime semiaberto, as “saidinhas”, proposta que foi parcialmente vetada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Quem não defende a extinção da saidinha está contra o povo”, diz a legenda de outro vídeo compartilhado no Instagram dele.

Ao Valor, Linhalis afirmou que a recriação do DPVAT “é um retrocesso” e que as divergências com o governo, do qual foi vice-líder nos últimos 40 dias, são olhando o conteúdo das propostas enviadas. “Eu voto favorável ao projeto do governo quando entendo que é bom para o país. Quando não entendo [que é favorável], não voto”, disse.